Luto na Filatelia: faleceu o Sr. RHM – Rolf Harald Meyer

No domingo 23 de novembro, após oito anos de internação, faleceu uma das maiores lendas da Filatelia Brasileira, o Sr. RHM – Rolf Harald Meyer.
Embora eu tenha uma amizade bastante próxima com o seu filho Peter, vi o Sr. Rolf apenas uma única vez, por ocasião da Brapex 2004 que aconteceu no Sesc Pompeia, em São Paulo. Por isso, não saberia o que escrever sobre ele, então, transcrevo abaixo, com pequenas modificações, texto que retirei do site da RHM Filatelistas, escrito pelo seu filho Peter Meyer há alguns anos, mas, antes, deixo registrado aqui os meus sinceros sentimentos ao Peter e a toda a Família RHM, que com muito orgulho dão continuidade ao seu trabalho…

ROLF HARALD MEYER OU RHM

Nasceu em Hamburgo, Alemanha em 1927, depois que seu pai tentou a vida no Brasil em 1924. A revolução daquele ano fez a família voltar para a Alemanha, já com duas meninas nascidas no Brasil.
Seu pai voltou novamente ao Brasil e desta vez em 1932, quando outra revolução estava em andamento (A constitucionalista de 1932). Desta vez, entretanto, foi possível permanecer por aqui.
Desde jovem Rolf já trabalhava na fábrica de geradores do seu pai e nas horas de folga colecionava e trocava selos. Aos 15 anos de idade já era um comerciante. Após uma discussão com o seu pai, Rolf saiu de casa. Vivia exclusivamente do comércio filatélico informal. Sua loja era o saguão do edifício dos Correios.
Com o Brasil entrando na segunda grande guerra mundial as coisas ficaram muito difíceis para os alemães que por aqui ficaram. O sonho de participar de uma Olimpíada como nadador foi embora. As casas foram invadidas, os livros e alguns pertences foram levados. Ficaram os selos.
Em 1948, Rolf conseguiu abrir a empresa RHM e alugou, juntamente com Adalberto Marcus, uma pequena sala na Rua Barão de Itapetininga. Os negócios iam bem até que ele resolveu assistir a uma Olimpíada. Ela foi realizada em Helsinqui na Finlândia. Rolf nos contava com alegria ter visto Adhemar Ferreira da Silva conquistar a medalha de ouro e quebrando um recorde mundial no salto triplo.
O dinheiro acabou e Rolf resolveu visitar a sua cidade natal. Afinal de contas havia saído de lá com apenas cinco anos de idade e agora já tinha 26. Lá não tinha onde ficar e uns amigos disseram que uma moça dispunha de um pequeno apartamento para alugar. Eles fizeram uma pequena festa e como não havia nenhum motivo real inventaram um noivado. A dona do apartamento e Rolf ficariam noivos de mentira naquele dia.
Eles se casaram logo depois e ela chamava-se Liese Lotte Meyer. Juntos decidiram voltar, mas não sabiam exatamente para onde. Milão? Barcelona?.
Ela havia conseguido salvar a vida de um italiano durante a guerra. Visitando Milão ele não deixou o casal ir embora. Ficaram em Milão por meses. Dizia minha mãe que é por isso que eu gosto de minestrone, e isso é verdade.
Decidiram ir para Barcelona, uma das grandes capitais da filatelia mundial. Os planos mudaram uma vez que foram vítimas de um assalto. Sem nada e nem ninguém o casal não teve outra coisa a fazer. Vir ao Brasil num navio qualquer, o La Curunã na terceira classe.
Aqui chegaram em 1953, ano do meu nascimento. Conseguiram um porão para morar e aos domingos estávamos sempre na Praça da República. Diz minha mãe que foram tempos difíceis e que a sobra da mamadeira era o seu jantar.
O tempo foi passando, o trabalho aumentando e a família também. Infelizmente o casal perdeu duas filhas logo cedo e restou ainda um irmão que é uma criança especial. Sobrou um filho com saúde. Eu.
Já no Barão de Itapetininga 221 no 11º andar a empresa cresceu. Houve um tempo que ela tinha mais de sete funcionários (década de 60). Na década de 70 eu tentei trabalhar com Rolf, meu pai, mas não foi possível. As nossas diferenças eram e sempre foram enormes. Entre os funcionários um chamava a minha atenção. Era Horst Flatau, filatelista de mão cheia que plantava pimenta no beiral da janela.
Em 1975, Rolf decidiu adquirir os direitos autorais do Catálogo de Selos do Brasil do Dr. Francisco Schiffer. Ele pagou uma pequena fortuna e ainda por cima pagou por milhares de clichês inúteis.
Não sabia que os clichês já faziam parte do passado e não valiam nada. Estávamos na era do fotolito. Atualmente nem fotolito é mais necessário.
TODO APRENDIZADO TEM UM PREÇO!
Na década de 70, Rolf realizou grandes compras e vendas, como o famoso envelope. Ele sempre comprava peças do Brasil Império em excelente estado.
Em 1983 a vida de Rolf mudou muito, pois seu filho entrou na empresa. Claro que ele tinha ciúmes dos selos e costumava guardá-los muito bem. Não gostava de vender e quase chorava quando isso era inevitável. Foi assim com o Xifópago, O Panô de 90 réis, O bloco de 15 dos 600 réis Inclinado e teria sido assim também com o famoso envelope, não estivesse ele no hospital, sem consciência.
Infelizmente ele foi vítima da violência urbana, vítima de um assalto em sua própria casa, defendendo a sua mulher de um ataque com faca. Ela, minha mãe, faleceu no dia 4 de novembro de 2009. Ele continuava em coma desde 20 de setembro de 2006.
De qualquer forma fica aqui registrado que Rolf H. Meyer, ou simplesmente RHM, é uma marca da filatelia brasileira e agradeço a oportunidade de poder contar um pouco da história que conheci do meu pai. Choro aos escrever estas linhas, pois mesmo ele sendo uma pessoa difícil, tenho saudades.
Afinal de contas ele é o meu pai, RHM, para sempre.
Peter Meyer

Notas:
1) Texto escrito por Peter em fevereiro de 2010, apenas atualizado
2) O “famoso envelope” que ele comenta é o único envelope conhecido circulado com a série completa Olho de Boi, vendido no final de 2007.

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3 opiniões sobre “Luto na Filatelia: faleceu o Sr. RHM – Rolf Harald Meyer

  1. Emanuel Santiago Silva

    Meu pesar pelo falecimento do Sr. R.H.M.grande referencia na filatelia brasileira.Com todo o respeito,Emanuel.

  2. Luiz Reginaldo Curado

    Os colecionadores do interior do Brasil muito devem ao Rolf Meyer pois sua casa filatélica na Barão de Itapetininga era uma referencia obrigatória para quem queria comprar selos. Rolf Meyer e familia
    no início da década de 60 foram conhecer Brasilia, vindo de carro desde S. Paulo. Passaram dois dias em Goiânia, o Peter Meyer ainda menino. Dele guardo as melhores lembranças e dessa visita, o início da amizade com o Peter. Deixou saudades. Era de uma geração de comerciantes que não deixou substitutos.
    Luiz Reginaldo Curado/GO

  3. Tive a honra e o prazer de conhecer alguns membros da família Meyer. Em 1998/99 fui professor de dona Lotte quando ela decidiu aprender a usar o computador, e apesar da idade e do idioma (que ela dizia ter dificuldade de entender pelo “informatiquês”) era aplicadíssima e dava orgulho de ensinar. Conheci os filhos de Peter jovenzinhos ainda. Senhor Rolf, como eu o chamava, me recebia com uma grande cordialidade, e conversamos os 3 algumas vezes sobre várias coisas da vida – além da filatelia, é claro. Dói saber que eles passaram por tão dura prova no final da vida. Pelo menos tenho a certeza de que ambos estão juntos, na paz da vida eterna como o belíssimo casal que conheci. A eles dedico este carinho enorme que tenho por eles em minhas lembranças!
    Júnior Parollo (SP)

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