Crônicas Filatélicas

Vejam o recado que recebi do amigo José Paulo Braida Lopes, que achei uma ótima ideia:
“A ideia surgiu no Grupo Colecionadores de Juiz de Fora: resgatarmos a história da Filatelia no Brasil através do registro de casos, fatos e curiosidades dos filatelistas. Todos nós temos histórias para contar e elas não podem se perder.
José Paulo Braida Lopes, Peter Meyer, Paulo Ananias, Roberto Aniche e outros do grupo amadureceram a ideia. Todos os que quiserem compartilhar suas histórias devem escreve-las de maneira simples e envia-las para o Roberto Aniche (robertoaniche@yahoo.com.br) ou para o Paulo Ananias (paulos0101@gmail.com). Fotografias e imagens serão bem vindas para ilustração dos “causos”.
As histórias serão hospedadas no site do Paulo Ananias (www.filateliaananias.com.br) e no do Roberto Aniche (www.robertoaniche.com.br). Os textos não serão alterados, a não ser para formatação.
Não serão aceitos textos ofensivos ou depreciativos, sem que isso signifique qualquer tipo de censura.”
Não é mesmo uma boa ideia? Pois bem, entrei em contato com os três amigos e combinamos que nas edições do nosso Informativo terei um bloco para colocar as crônicas publicadas, que ficarão hospedadas nos sites informados acima.
Então, amigos, como o José Paulo disse, todos nós temos histórias para contar. Escrevam e mandem para eles.
Segue abaixo a primeira crônica publicada…

Ao nosso amigo Luiz Langer

Boletim da SPP nº 213 – Abril de 2012

Conheci a Sociedade Philatelica Paulista, a nossa SPP, em 1990 a convite de um amigo de velhos plantões, o Dr. Luis Langer, dentista e que foi o meu primeiro grande orientador na arte de colecionar selos. Até então eu era um ajuntador de selos, que guardava tudo o que vinha pela frente achando que eu era o máximo!
Acabei indo à Sociedade num sábado à tarde do mês de dezembro, a convite e insistência desse velho amigo, num tal de Leilão de Doações, que na época era anual e bastante concorrido com filatelistas realmente mestres na arte do colecionismo. O amigo Langer era realmente um expert em selos ordinários, colecionava variedades além de tudo o que se relacionasse a Getúlio Vargas, do qual era fã incondicional. Não tinha apenas selos e peças filatélicas com o ex-ditador, mas colecionava inclusive objetos, assinaturas, e outras coisas incríveis sobre ele.
Eu realmente estava meio perdido, com uma porção de gente que, embora simpática e amigável, ainda não conhecia. No fundo, queria comprar tudo que visse pela frente, e tudo começava com apenas um real! Ainda assim, eu ajuntador de selos nem saberia o que fazer com o que pudesse comprar. Por mais que me apresentasse as pessoas (que eu sequer conseguia gravar os nomes), ainda assim eu me sentia um estranho no meio de pessoas que estudavam a filatelia aos seus limites.
Confesso que fiquei até envergonhado em responder a perguntas tipo: o que você coleciona? Como começou a colecionar? Na primeira tentativa de dizer que ganhei parte de um álbum de um tio-avô que eu não conheci descobri que iria cair num lugar comum que todo mundo já vivenciou e não quer admitir. Hoje, cada vez mais eu tenho essa certeza: todo mundo ganhou alguns selos ou herdou uma coleção de um tio ou avô que mudou de mundo e ninguém saberia o que fazer com aquele caderno. Lógico que uma tia iria dizer: Dá de presente pro Robertinho, coitadinho, ele é tão diferente dos outros sobrinhos…
Mas voltemos ao dito Leilão de Doações. Tinha um cearense chamado Xavier que fazia a maior balbúrdia com o martelo do leilão, criava estórias em cima de uma peça filatélica e forçava a venda a um preço alto. Cada lote tinha uma história, cada carimbo, cada destino. O Luiz Langer não tinha medo de comprar, quando queria alguma coisa parecia aquela criança no supermercado que se agarra a alguma coisa que quer e só sai de lá agarrado com o pacote.
Foi aí que apareceu uma peça não filatélica da época: uma gravura com uma mulher tipo símbolo da liberdade, carregando uma bandeira do Brasil, com a imagem do rosto do Getúlio atrás, e para atiçar mais ainda o colega Luis Langer, tinha uma assinatura do próprio Getúlio! Aquilo era o máximo! Os olhos do Luiz brilharam, ele parou a conversa e entrou de sola no leilão.
Lá vai ele disputando a peça palmo a palmo, cruzeiro a cruzeiro a gravura, com outros colegas que apenas entraram para infernizar a vida dele. Finalmente o leiloeiro, o amigo Xavier ao ver que a brincadeira já tinha passado dos limites, numa velocidade incrível bateu o martelo no 1-2-3 – É do Langer!!
Ele, de posse da peça na mão, examinava com cuidado de expertizador a assinatura do Getúlio e se orgulhava de ter mais uma peça para sua coleção getulista. E continuou comprando, colocando suas pacotarias para procurar variedades ao seu lado.
De repente, para surpresa de todos, e muito mais do amigo a mesma peça voltou para o leilão. Os amigos da onça, digo, filatelistas, delicadamente devolveram a peça como “nova doação” ao leilão, e o amigo Xavier não pensou duas vezes:
“Ó, Langer, tem aí outra do Getúlio!”
O Luiz Langer virou um bicho, mas não teve outra saída, entrou na briga e comprou de novo a mesma peça, ganhando de todos os outros da mesma maneira, com o Xavier batendo o martelo rapidamente, com outro sorriso no rosto antes que o valor dela ficasse exorbitante.
Hoje o amigo Luiz está muito próximo dos 80 anos, vendeu sua coleção, mas nada impede que conversemos sempre que possível longa e deliciosamente pelo telefone. Não dá para esquecer as lições de filatelia e amizade que ele, graciosamente e de coração me ensinou.
Amigão Langer, muito obrigado mesmo!
Roberto Antonio Aniche

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