A MÍSTICA FILATÉLICA
AMPARO — Flor da Montanha — cidade de priscas eras, se renova no presente, se metamorfoseia com requintes de Margarida nas mãos de Fausto e surge aos olhos de seu visitante como donzela pudica deitada na concha víride de seus vales sinuosos. O milagre de seu clima, de suas águas radioativas e minerais lhe faz o rosto jovem numa alquimia estupenda e inigualável. Há nas atitudes de seus moradores, também, o milagre da juventude eterna. Na garridice de sua mocidade buliçosa demonstrações de encantamento e poesia que faz doce a existência e suave o anoitecer.
Que é o Cine Foto Clube de Amparo senão um atestado de renovação, metamorfose: mocidade que sabe apreciar a profundidade estética de uma foto. As linhas clássicas de um quadro de pintura na imagem singela de um selo postal. É através da janela da etiqueta de correio que o Cine Foto Clube vem a oito anos mostrando ao mundo uma faceta polimorfa que poucos é dado entender. Uma faceta poliédrica que, como o diamante, quanto mais se parte mais cintila. A faceta da própria humanidade nas suas múltiplas manifestações de arte, ciência, cultura enfim. Isso tudo o povo de Amparo vê através da janela singela do selo postal — a história do mundo com suas alegrias e seus sofrimentos. O Cine Foto Clube assim compreende a grande lição do selo e dentro de sua simplicidade vem com uma persistência beneditina pela oitava vez fazer a sua mostra filatélica.
Que importa se os ditames das federações não tiveram um: Que importa se a tarja colorida foi colocada deste ou daquele modo. Que importa se por lá não andaram os catões de sobrecenho franzido e lápis na mão como uma faca a julgar os bons ou os maus. …. Em Amparo não há nem bem nem mau. A filatelia é eclética, límpida como a água da fonte, pura como o dorso dos estatuários. Tem a amplitude do horizonte no cimo das montanhas. Quanto mais se ascende mais vasta se torna a morada do sol. Há em Amparo uma filatelia sem prevenção, sem regulamentos que arrocham, que amordaçam, afugentam os tímidos, que tiram o estímulo do expositor primário.
AMPARO adora o selo como os Reis Magos o Senhor Cristo Menino. Sem pompa. Sem alarde. Sem preconceitos. Adora simplesmente o Deus Selo: como ele nasceu, nu, dentro de sua manjedoura tosca de palha de feno. Seus inúmeros quadros novos, limpinhos levavam uma mensagem de paz, alegria e doçura. Lá estavam as estampilhas do mundo diluindo ensinamento, consolo. Que mais se pode exigir de uma exposição filatélica? Que mais, senão dar ao homem do povo, à criança que aspira a beleza eterna, um punhado de pétalas coloridas, mensageiras da aleluia dos cristãos. Assim, creio eu, se compreende Mostra Filatélica. É essa a filosofia dos selos postais e que muitos ainda não compreenderam.
Foi-me solicitada uma crônica.
Aí está ela, de corpo inteiro, falando de uma Exposição original, sem nomes, sem cartolas, sem medalhas, sem castigos. Mas, linda na sua pureza de intenções, estupenda na sua finalidade. Lá estavam os médicos da terra, as professoras e seus alunos, o padre, a freira, o ateu e o cristão, o preto e o branco. …. Sem racismo, nem nada. …. Que entidade social no mundo pode reunir, para fazer festa comum, tanta gente heterogênea assim, num único organismo? Nenhuma!
Em conclusão, o que Amparo me ensinou está a gritar aos quatro ventos é o seguinte: — o básico, o essencial, o fundamental em ciência filatélica é fazer EXPOSIÇÕES com E maiúsculo. Mostras de qualquer natureza. Quer seja grande ou pequena. Dar luz, oxigênio, vida aos selos enfurnados em sarcófagos egipcianos como cornos embalsamados. Que vale essa conversa de alcova, em surdina, se a filatelia assim está sendo estrangulada, sufocada, assassinada? Que vale os cochichos dos compadres, as brigas das comadres, se a filatelia está morrendo de inanição, enquanto seus guardiões a contemplam com a esterilidade de eunucos? Exposição de selos é festa natalina para nós. É soro fisiológico para moribundos. É óleo canforado para o combalido. É seiva que nutre. Exposição é luz e luz não se esconde. Exposição é aniversário de nossa filha única. Nada o substitui. Nem se perdoa o esquecimento do amigo.
Somente o interior tem dado demonstrações de carinho e vitalidade filatélica. E, é lá, que eu e os amigos temos que nos abeberar e alimentar esse fogo sagrado que nos consome. Esse amor que dedicamos a essa Fada estranha e faceira que é ao mesmo tempo religião, filosofia, metafísica, espiritualismo…
Crônica de autoria do Dr. Heitor Fenício e publicado na revista Brasil Filatélico nº177 – janeiro a março de 1963
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